A Mundial de Zurique 2024 para Tadej Pogacar após uma fuga de 100 quilômetros

Autoestrada 29/09/24 17:44 Migue A.

Fez bons prognósticos Tadej Pogacar no Mundial de Zurique 2024 e de que maneira. Com um ataque fora de toda lógica que surpreendia todos os seus rivais com ainda 100 quilômetros de corrida por disputar. Uma cavalgada imperial que não faz senão aumentar a lenda do esloveno que completa um ano perfeito com Strade Bianche, Volta à Catalunha, Liège-Bastogne-Liège, Giro d'Italia e Tour de France.

Um Tadej Pogacar imperial se veste de arco-íris no Mundial de Zurique 2024

Era o máximo favorito para vencer o Mundial de Zurique 2024, à priori o ciclista que seria mais vigiado e, no entanto, quando ninguém podia sequer esperá-lo, lançou um ataque louco, a mais de 100 quilômetros da conclusão que pegou todos os seus rivais desprevenidos e que lhe serviu para alcançar uma das vitórias num Campeonato do Mundo de ciclismo mais épicos que se recordam.

Amanhecia o dia em terras suíças com uma mudança de panorama em relação a toda a semana em que a chuva tem condicionado todas as provas disputadas. À frente 274 quilômetros e a incógnita sobre o desenvolvimento que terá a corrida já que, pelo visto nas outras categorias, apesar da dureza do percurso que produzia uma seleção natural, na hora da verdade tem sido complicado quebrar a corrida.

Começava este Mundial de Zurique 2024 com um forte ritmo que nos impediu ver a habitual fuga consentida de ciclistas mais ou menos exóticos. De fato, prova da velocidade a que se rodava é que vimos esses ciclistas se descolando do pelotão logo no início em um trecho inicial em linha desde a saída em Winterthur em direção ao circuito de grande dureza.

Finalmente, passados cerca de 50 quilômetros, formava-se a fuga, integrada por ciclistas já com certo nível: Silvan Dillier, Tobias Foss, Rui Oliveira, Simon Geschke aos quais se somaram o polonês Piotr Pekala, o luxemburguês Luc Wirtgen, o estoniano Markus Pajur e o panamenho Roberto Carlos González, embora estes dois tenham perdido contato logo no início da subida a Kyburg, a subida mais dura desta primeira parte com 1 km a 14%.

Chegava assim a calma à corrida até que ocorria uma queda em que se viam envolvidos Pello Bilbao, Julian Alaphilippe e Joao Almeida. O francês teve que abandonar ali mesmo ao deslocar o ombro e Almeida o faria quilômetros mais tarde. Não acabaram aí os incidentes já que, pouco antes de chegar ao circuito, foi Mikel Landa quem sofreu um forte golpe na coxa quando Kasper Asgreen caiu sobre ele, deixando-o fora de jogo. Na primeira passagem pela meta, após passar com 17 minutos perdidos, o alavês desistiu, deixando a equipe espanhola sem um de seus referentes.

Também veríamos o abandono de outro ciclista destacado como Mattias Skjelmose que, pela manhã, durante o café da manhã, fez um movimento errado que deixou as costas rígidas. O dinamarquês tentou, mas toda a corrida na cauda, com dor, o levou ao abandono na chegada ao circuito.

Um circuito onde as duas primeiras voltas transcorreram com relativa calma, com as seleções eslovena e belga, de Pogacar e Evenepoel, os dois grandes favoritos, mantendo um ritmo alegre e sem permitir muitas alegrias. A paisagem mudaria no início da terceira volta, na primeira subida dura do circuito, onde Pablo Castrillo atacava. Um ataque que ninguém mais seguia e ao qual a Eslovênia reagia imediatamente para secar. No entanto, foi o sinal de alerta para que, pouco depois, Jay Vine arrancasse com força, formando um grupo muito perigoso com homens de primeiro nível como Cattaneo, Jan Tratnik, Pavel Sivakov, Magnus Cort Nielsen, Florian Lipowitz ou Laurens de Plus.

Um movimento em que Bélgica e Eslovênia conseguiam colocar dois homens, o que poderia significar se livrar de trabalhar nas voltas seguintes. No entanto, poucos esperavam o que estava prestes a acontecer. Iniciava-se a 4ª volta e, na primeira das subidas, com 100 quilômetros ainda pela frente, Tadej Pogacar arrancava totalmente surpreendendo seus rivais e seguia sozinho em busca do grupo da frente com a ajuda de seu companheiro da UAE Team Emirates, Jan Tratnik, que se descolava para colaborar com ele. Obviamente, atrás, a Bélgica não tinha outra opção senão fazer todos os seus homens trabalharem para apagar esse incêndio que ameaçava deixar o Mundial de Zurique 2024 sentenciado logo no início.

Chegando ao grupo da frente, Jan Tratnik se dedicava a consolidar a vantagem e, no início da volta seguinte, ou seja, faltando ainda 3 para o final, Tadej Pogacar arrancava novamente no mesmo ponto e apenas seu companheiro da UAE Team Emirates, Pavel Sivakov, conseguia seguir sua roda, a quem, aliás, o esloveno esperava um pouco levantando o pé ao finalizar a subida, já que também o tinha cortado. O russo-francês retribuía a cortesia passando a relevo com a esperança de que isso o ajudasse a chegar às medalhas.

 
 
 
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Atrás, Remco tentava, mas sem a contundência necessária para romper. A partir daqui, a corrida no grupo perseguidor se transformava num carrossel de ataques e contra-ataques e, ao contrário do que costuma acontecer, o ritmo não diminuía, o que impedia Tadej Pogacar de aumentar sua vantagem, tudo isso, com mais de 200 quilômetros nas pernas.

Entrávamos na penúltima volta e na mesma subida onde antes Tadej Pogacar tinha selecionado, Pavel Sivakov via suas chances desaparecerem ao não conseguir acompanhar o ritmo do esloveno. A meio da volta, um dos ataques no grupo de trás frutificava, um assalto protagonizado por Ben Healy, Toms Skujins e Óscar Onley, embora o britânico cedesse e fosse apanhado por Mathieu van der Poel, que saiu em busca do trio, embora, no final, não conseguisse fechar a lacuna. Uma situação que nos levaria até a volta final com tudo por decidir.

E é que, apesar de o pedal de Tadej Pogacar ter sido sólido, a ofensiva por trás se intensificou com um duro ataque de Marc Hirchi que foi em busca de Healy e Skujins e fez com que a vantagem do esloveno caísse para 40 segundos e com a sensação de que a corrida começava a se tornar longa para ele. No entanto, também atrás a fadiga era grande e não havia forças para lançar um ataque realmente seletivo. De fato, um ataque de Enric Mas levou a que novamente se fundisse tudo, o que resultou numa parada que afastou as dúvidas que tinham surgido sobre a vitória de Pogacar.

Restava, portanto, salvo avaria ou queda, decidir a prata e o bronze, mas nenhum dos ataques frutificava com um Mathieu van der Poel, muito forte, fechando todas as lacunas e um Remco Evenepoel desesperado e frustrado que se via incapaz de propor algo. E quando tudo parecia que seria decidido no sprint, surpreendia com uma arrancada inesperada Ben O'Connor que conseguia escapar da vigilância e abrir uma lacuna que valia uma medalha de prata que certifica uma temporada fantástica após a mesma posição na Vuelta.

No sprint do resto do grupo não haveria cor. Toms Skujins tentava surpreender lançando de longe, mas Mathieu van der Poel se agarrava facilmente à sua roda e com ainda mais facilidade remontava para pendurar uma medalha de bronze que, com certeza, lhe deixa um excelente sabor de boca após um mundial em que, à priori, não confiava em suas possibilidades devido à grande dureza do percurso e que, com certeza, o faz ver a próxima disputa do Il Lombardia, um dos monumentos que lhe falta em sua coleção, com outros olhos.

Portanto, ao longo de 2025, Tadej Pogacar ostentará a cobiçada camisola arco-íris após esta espetacular vitória no Mundial de Zurique 2024, uma vitória que o torna o terceiro ciclista da história, juntamente com Stephen Roche e, claro, Eddy Merckx, a vencer na mesma temporada o Giro d'Italia, o Tour de France e o Campeonato do Mundo. Um novo marco a acrescentar ao seu excelente palmarés já de autêntica lenda do ciclismo. Qual será o próximo marco que o esloveno conseguirá alcançar?

Classificação Campeonato do Mundo de Ciclismo Zurique 2024

  1. Tadej Pogacar (Eslovênia) 6h27'30''
  2. Ben O'Connor (Austrália) +34''
  3. Mathieu van der Poel (Países Baixos) +58''
  4. Toms Skujins (Letônia) +58''
  5. Remco Evenepoel (Bélgica) +58''
  6. Marc Hirschi (Suíça) +58''
  7. Ben Healy (Irlanda) +1'00''
  8. Enric Mas (Espanha) +1'01''
  9. Quinn Simmons (Estados Unidos) +2'18''
  10. Romain Bardet (França) +2'18''

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