Por que cinco equipes se recusaram a instalar o GPS exigido pela UCI?
O Tour de Romandia Feminino 2025 começou marcado pela polêmica. Cinco equipes (Lidl-Trek, Visma-Lease a Bike, Canyon-SRAM Zondacrypto, EF Education-Oatly e Picnic PostNL) foram desqualificadas antes de sair depois de se recusarem a cumprir a ordem da UCI de instalar um novo dispositivo de rastreamento GPS em suas bicicletas. Mas por que isso aconteceu?
"Colaboração, não coerção": as cinco equipes explicam por que rejeitaram o GPS da UCI
O organismo internacional havia apresentado este projeto piloto como um avanço em segurança, destinado a fornecer dados em tempo real aos comissários, à organização e aos serviços médicos, com foco no Mundial de Estrada de Kigali, onde todos os corredores usarão um dispositivo semelhante. No entanto, a forma como foi tentado implantar gerou um choque frontal com várias equipes do pelotão.
As equipes argumentaram que não se opunham à melhoria da segurança, mas questionaram a forma como a UCI impôs o sistema. De acordo com o regulamento específico do teste, cada equipe deveria escolher apenas uma corredora para carregar o aparelho, algo que as formações consideraram injusto e discriminatório. "A equipe não selecionará uma corredora para carregar o dispositivo, pois isso a colocaria em desvantagem em relação às outras, o que é claramente discriminatório", apontaram em uma carta enviada à UCI.
Outro ponto conflituoso foi a responsabilidade legal em caso de problemas técnicos ou acidentes. As equipes se recusaram a permitir que seus mecânicos manipulassem os aparelhos e deixaram claro que, se a UCI insistisse, deveria ser seu próprio pessoal a assumir a instalação e a manutenção "sob sua total responsabilidade". Como explicaram em seu comunicado: "Nós não escolheríamos uma corredora, nem instalaríamos, removeríamos ou manteríamos o dispositivo. A UCI ou seu parceiro eram livres para selecionar uma corredora e instalar o dispositivo sob sua própria responsabilidade se considerassem que tinham o direito de fazê-lo".

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Além disso, as equipes lembraram que já existe um sistema alternativo de rastreamento, desenvolvido pela Velon, operacional em todo o pelotão e testado em grandes corridas. Eles afirmaram que haviam oferecido à UCI como uma forma de colaboração, mas o organismo preferiu avançar unilateralmente. "Apesar de nossa cooperação e da existência de um sistema de rastreamento de segurança testado e colaborativo, já testado com sucesso em outras grandes corridas, a UCI decidiu impor esta medida sem um consentimento claro, ameaçando com a desqualificação e agora nos excluindo da competição", denunciaram.
Da parte da federação, a resposta foi contundente. A UCI classificou como "surpreendente" a recusa das equipes e afirmou que "minam os esforços de toda a família ciclista para garantir a segurança dos corredores". Segundo o organismo, o dispositivo de apenas 63 gramas é fundamental para avançar em protocolos que permitam reagir rapidamente a quedas ou desaparecimentos, como o que custou a vida à jovem Muriel Furrer em 2024, quando passou mais de uma hora sem ser localizada após um acidente no Mundial júnior de Zurique.
Em um comunicado, a UCI assegurou: "É deplorável testemunhar a recusa de certas equipes em avançar juntas para proteger a segurança das ciclistas."
O desentendimento deixou de fora da corrida 30 ciclistas, incluindo nomes de peso como Kasia Niewiadoma-Phinney (Canyon-SRAM), Niamh Fisher-Black (Lidl-Trek) ou as canadenses Isabella Holmgren e Magdeleine Valliè. O pelotão perdeu assim várias de suas favoritas logo antes de começar o contrarrelógio inaugural.
Enquanto a UCI insiste que a implementação do GPS é um passo inevitável na evolução da segurança, as equipes afetadas exigem um diálogo real e regras claras. "Estamos sempre na vanguarda para tornar o ciclismo um esporte mais seguro, mas isso deve ser alcançado por meio da colaboração, não da coerção" concluíram em seu comunicado conjunto.
O que aconteceu em Romandia evidencia uma crescente tensão entre os interesses da federação internacional e as equipes profissionais, que exigem ser ouvidas em decisões que afetam diretamente a segurança dos ciclistas.