Pode O'Connor ganhar La Vuelta 2024?

Após o terremoto ocorrido ontem na classificação da Vuelta a España 2024, com Ben O'Connor apostando como campeão, esta manhã o mundo do ciclismo acordou ressacado do espetáculo desfrutado no dia anterior e com uma pergunta comum, será capaz de resistir até Madrid com a camisola vermelha sobre os ombros? Vamos analisar como fica a corrida.

Ben O'Connor pronto para resistir até o final com a camisola vermelha, será que conseguirá?

Dia de reflexão e de reavaliação da corrida para as equipas envolvidas na luta pela classificação geral da Vuelta a España 2024 após o golpe duro que foi para muitos a reviravolta na classificação geral provocada por Ben O'Connor após sua espetacular fuga e vitória. De fato, as declarações do diretor da Red Bull-BORA-hansgrohe após a etapa de ontem foram eloquentes, afirmando que deixaram a fuga acontecer com a intenção de que Florian Lipowitz se colocasse na frente para incomodar as outras equipas e que não esperavam o desempenho de Ben O'Connor.

A versão oficial de Patxi Villa falou mais pelo que calava do que por essas declarações, pois bastava ver sua expressão enquanto as fazia para perceber que havia uma verdadeira preocupação na equipa em relação ao que acabara de acontecer.

Não é para menos, pois não podemos esquecer que Ben O'Connor não é um ciclista de segunda linha que se encontra com a oportunidade de sua vida por estar no lugar certo no momento certo. O ciclista australiano já terminou em quarto lugar no Tour de France de 2021, a 10 minutos de Tadej Pogacar, vencedor daquela edição. O mesmo resultado foi alcançado este ano no Giro d'Italia, onde terminou a 12 minutos do esloveno. De qualquer forma, alcançar essa posição na classificação implica que é um ciclista sólido em uma corrida de três semanas.

Por outro lado, a história da Vuelta a España joga a favor de Ben O'Connor, basta lembrar a cavalgada de Sepp Kuss no ano passado em direção a Javalambre, onde, assim como o da Decathlon-AG2R La Mondiale, conseguiu assumir a liderança e mantê-la, não sem dificuldades, até Madrid. Também foi lembrada após a etapa de ontem a edição de 1990 vencida pelo italiano Marco Giovannetti, ciclista da modesta equipa Seur que, graças ao tempo conquistado em uma fuga, conseguiu conquistar a camisola amarela na época.

Voltando à vitória de Sepp Kuss no ano passado, há também outro fator importante a considerar. O norte-americano contava com o apoio de um Jumbo-Visma todo-poderoso que conquistou as três grandes voltas em 2023 e com escudeiros como dois dos melhores ciclistas do mundo, Primoz Roglic e Jonas Vingegaard, embora, nas etapas finais da Vuelta, tenha ficado claro o conflito interno sobre qual ciclista deveria assumir a vitória, o que acabou levando à saída de Primoz Roglic da equipa.

Obviamente, a equipa Decathlon-AG2R La Mondiale de Ben O'Connor não é a Visma, mas não podemos esquecer que é uma equipa muito séria que acumulou 30 vitórias até agora nesta temporada. Para esta Vuelta 2024, conta com ciclistas tão sólidos como Valentin Paret-Pentre, Victor Lafay, Felix Gall, Geoffrey Bouchard ou Bruno Armirail, que têm experiência suficiente para escoltar seu líder, pelo menos até que a alta montanha apareça.

Esta é uma das principais dúvidas em relação ao desempenho de Ben O'Connor nos próximos dias, pois, na primeira etapa de montanha disputada há dois dias, com final no Pico Villuercas, ele terminou em vigésimo terceiro lugar, a 1 minuto e 11 segundos de Primoz Roglic, somando-se aos 52 segundos que cedeu no contrarrelógio do primeiro dia. Em outras edições da Vuelta, poderíamos afirmar sem dúvida que ele seria capaz de resistir, no entanto, em 2024 há muita montanha e algumas etapas específicas que vão exigir muito do australiano, começando pela etapa deste próximo domingo em Sierra Nevada.

Depois terá que lidar com etapas como a de Ancares, as duas etapas asturianas e, sobretudo, a penúltima etapa em terras cántabras com um percurso verdadeiramente desafiador. Além disso, terá que enfrentar outro contrarrelógio mais longo que o inicial e com um percurso por grandes avenidas de Madrid e poucas dificuldades técnicas que favorecerão os especialistas.

A princípio, um panorama não muito favorável para Ben O'Connor, embora haja também fatores que jogam a seu favor, além de a história desta corrida já ter contado com essas surpresas.

Sua principal vantagem é a igualdade entre os favoritos, pelo menos a demonstrada no Pico Villuercas, o que pode transformar a corrida em uma verdadeira batalha de estratégias, buscando que seja o outro quem tente testar as forças de O'Connor, que provavelmente adotará um papel mais passivo em defesa firme da camisola vermelha. Também há dúvidas sobre o verdadeiro estado de forma de Primoz Roglic, pois não são poucas as vozes que analisaram o que aconteceu ontem como consequência de o esloveno não estar tendo um bom dia e a equipa não poder puxar tanto quanto queria para não revelar sua fraqueza. Não esqueçamos que Primoz Roglic foi praticamente uma dúvida até o último dia disponível para anunciar a escalação da equipa devido à queda sofrida no Tour de France que resultou em uma fratura na vértebra.

Por outro lado, Primoz Roglic parece ser o único ciclista com uma mentalidade claramente ofensiva e, realmente, é difícil imaginar ciclistas como Enric Mas ou Joao Almeida atacando para derrubar o ciclista da Decathlon-AG2R La Mondiale.

De qualquer forma, esta situação de corrida abre um leque de possibilidades que, com certeza, se traduzirá em uma corrida muito mais interessante, na qual veremos quais alternativas os outros aspirantes são capazes de apresentar e como Ben O'Connor se defenderá com praticamente toda a Vuelta pela frente.