" Nem eu esperava me sentir tão motivado": entrevistamos Henrique Avancini após sua transição para a estrada

Entrevistas 17/03/25 12:58 Migue A.

O ciclista brasileiro Henrique Avancini ganhou o Campeonato Mundial XCM em 2023 e após uma carreira cheia de sucesso no mountain bike, anunciou surpreendentemente sua aposentadoria. Agora, um ano depois, ele surpreendeu a todos anunciando que está retornando ao ciclismo profissional, mas desta vez na estrada.

Nesta entrevista, o brasileiro nos abre as portas de sua nova fase no ciclismo de estrada. Uma mudança corajosa, repleta de sonhos de infância, motivação renovada e a mesma paixão de sempre.

Entrevista com Henrique Avancini após assinar com a Factor Racing e anunciar sua transição para a estrada

Henrique, após uma carreira de sucesso no MTB, você surpreende com sua contratação pela Factor Racing e sua mudança para a estrada. Quando e como surgiu essa ideia de mudar?

Bem, este é um sonho antigo. Desde criança, sonhava em competir na estrada, mas quando segui minha carreira no mountain bike, deixei isso de lado por muitos anos, principalmente porque naquela época o ciclismo de estrada não me parecia um esporte saudável. No entanto, agora acredito que se tornou um esporte mais limpo e saudável.

Depois de vencer o Mundial de Glasgow, decidi não competir mais no MTB. No dia seguinte, falei com meu treinador por telefone e disse a ele que, de tudo o que fiz na minha vida em cima da bicicleta, a única coisa que ainda estava na minha lista de desejos era competir na estrada. Naquele momento, pensamos que o mais sensato seria fazer uma pausa, tirar um tempo para descansar, verificar como estava minha saúde e também ver se ainda estava motivado para, talvez, tentar algo diferente no futuro.

Você mencionou que desde criança sonhava em correr o Tour, o Giro ou a Vuelta. Agora que está mais perto desse sonho, o que essa nova desafio significa para você?

Bem, esse objetivo é mais do que um simples plano esportivo, é um verdadeiro sonho para mim. É algo que eu tinha na cabeça desde os 8, 9 ou 10 anos, mas sempre vi como algo muito distante, quase inatingível. Agora que estou tentando torná-lo realidade, tornou-se algo muito pessoal e emocionante. Estou aproveitando muito esta fase, cada passo do processo.

" Nem eu esperava me sentir tão motivado": entrevistamos Henrique Avancini após sua transição para a estrada

O ciclismo de montanha e o de estrada são dois mundos muito diferentes. Quais você acha que serão os maiores desafios da sua adaptação para a estrada?

Bem, sem dúvida é um mundo muito diferente, especialmente em como o esporte é gerenciado. A estrada é uma disciplina onde há muito mais política, e encontrar boas oportunidades não será fácil.

Hoje em dia, os números, os dados, são muito valorizados, como se fossem o mais importante, mas eu ainda acredito que isso vai além. Mesmo assim, tenho números bastante bons, até impressionantes em alguns aspectos.

Acho que o mais difícil será aprender tudo o que preciso saber. Até agora, percebi que não estou tão atrás quanto pensava, mas o maior desafio provavelmente será minha idade. Vou fazer 36 anos, e isso não é algo muito atraente para a maioria das equipes."

Muitos ciclistas de MTB fizeram a transição para a estrada com sucesso, como Van der Poel ou Pidcock. Você conversou com algum deles sobre essa mudança? Eles te deram algum conselho?

Sim, conversei com algumas pessoas que têm experiência competindo em mais de uma disciplina. E é claro que não é fácil dividir esforços entre modalidades, requer muito equilíbrio.

Mas no meu caso, como estou colocando toda minha energia agora no ciclismo de estrada, acredito que posso trazer alguma experiência do MTB. Embora, por outro lado, também tenha que aprender muitas coisas do zero, começar do início em muitos aspectos."

Em termos físicos e técnicos, como você está se preparando para essa transição? Você mudou seu treinamento para se adaptar às exigências da estrada?

Sim, o treinamento mudou bastante. Estou me sentindo muito bem fisicamente, mas a maior diferença está em como a preparação é estruturada.

No mountain bike, a preparação sempre foi bastante complicada para mim. Sempre tive um bom motor, mas o mais importante era saber usá-lo bem. Quando chegava a um bom estado de forma, tinha que investir muita energia em melhorar a eficiência da pilotagem, em trabalhar na recuperação ativa... era tudo muito específico.

No ciclismo de estrada, você pode se concentrar mais no desenvolvimento físico de forma mais isolada. Depois, as próprias corridas ajudam a aprimorar o específico. É uma abordagem muito diferente da do MTB.

Diria que a preparação para a estrada é bastante mais simples, mas competir bem na estrada é mais complexo, porque há muitas mais variáveis a serem gerenciadas durante a corrida.

" Nem eu esperava me sentir tão motivado": entrevistamos Henrique Avancini após sua transição para a estrada

A Factor é uma marca muito inovadora no mundo da estrada. O que te atraiu para essa equipe em particular e quais são suas expectativas com eles?

Bem, fiquei muito interessado no projeto por ser uma equipe Factory, uma equipe diretamente ligada à marca. A Factor é uma marca muito interessante, com muita ambição para o futuro.

Eles entenderam perfeitamente o que estou procurando: desenvolver meu objetivo de chegar às corridas WorldTour em um curto período de tempo.

A possibilidade de começar com uma equipe Continental europeia me pareceu muito atraente, porque me dá um pouco mais de liberdade para começar e me adaptar. Além disso, as corridas nesse nível costumam ser menos controladas, talvez um pouco mais nervosas, e acredito que isso pode funcionar como uma boa escola para mim.

No MTB você era um líder e uma referência. Na estrada, pelo menos no início, seu papel pode ser diferente. Como você se vê nessa nova dinâmica de equipe?

Sim, é uma grande diferença em relação ao MTB. No mountain bike, quando você tem um bom nível e está em uma corrida, praticamente sempre está buscando a vitória. É uma disciplina em que tudo depende de você, o que gera muita pressão e estresse.

Na estrada é diferente. Mesmo que você esteja em boa forma, muitas coisas podem acontecer que você não pode controlar. Às vezes, simplesmente o resultado não acontece, e isso não significa que você falhou.

Estou muito aberto a aprender, a me adaptar a novos papéis dentro da equipe. Sei que no início não serei o líder nem estarei em posição de tomar decisões-chave na corrida, e isso me parece bem. Vejo isso como uma etapa de aprendizado, e se puder ajudar a equipe e continuar crescendo, estarei cumprindo minha função. Estou aproveitando essa mudança de dinâmica.

Alguns ciclistas que deixaram a elite, como Valverde e outros referentes, encontraram no Gravel uma nova forma de continuar competindo. É uma disciplina que te chama a atenção para o futuro?

Bem, não tenho certeza. O gravel pode ser uma possibilidade, mas no momento toda minha energia está focada no ciclismo de estrada.

Estou bastante impressionado com como me sinto, talvez mais motivado do que em muitos anos. Além disso, tenho tido números físicos muito bons novamente, que não alcançava há duas ou três temporadas.

Então, por enquanto quero me concentrar completamente nesse sonho que tenho desde criança. Mais adiante, se a motivação para experimentar outra modalidade surgir, veremos. Mas primeiro vem esse objetivo pessoal.

" Nem eu esperava me sentir tão motivado": entrevistamos Henrique Avancini após sua transição para a estrada

O Brasil te viu brilhar no MTB e agora te verá competir na estrada. Como está sendo a reação dos seus seguidores e do ciclismo brasileiro a essa mudança?

Bem, a reação foi bastante forte, acho que poucos esperavam algo assim. Não tinha a intenção de criar muitas expectativas, mas para aqueles que me acompanharam todos esses anos no mountain bike, talvez não seja tão surpreendente.

Fiz muitas coisas que por muito tempo pareciam impossíveis para nós, latino-americanos. Então, de certa forma, acho que as pessoas valorizam que eu continue competindo e buscando novos desafios.

Mas para mim, essa fase também representa um momento de vida em que quero fazer as coisas com mais calma. Ainda não sei por quanto tempo estarei ativo: pode ser seis meses, um par de anos... ou até mais. Tudo depende se consigo voar alto e chegar onde espero chegar.

Se você pudesse escolher, que corrida de estrada gostaria de correr primeiro? Sonha com uma clássica ou com uma grande volta?

Meu maior sonho seria correr uma grande volta. Isso é o que me trouxe até aqui, é o que sonhava quando era criança.

Hoje em dia, se no futuro eu também tiver a oportunidade de correr algumas clássicas, seria incrível, sem dúvida. Mas o sonho número um, o que carrego desde pequeno, é fazer uma grande volta.

Você acha que sua experiência no MTB te dá alguma vantagem na estrada, por exemplo, em terrenos técnicos ou descidas?

Sim, acredito que existem certas vantagens. Sempre busquei situações realmente desafiadoras, e isso me deu experiência para trabalhar sob pressão.

Às vezes, para os ciclistas de estrada, lidar com a pressão não é tão fácil. Por isso pode acontecer de um corredor que não é líder render bem, mas quando assume esse papel, com a expectativa e a pressão em cima, os resultados não são os mesmos. Essa parte eu trabalhei muito durante meus anos no mountain bike.

Além disso, acredito que minha ética de trabalho e minha disciplina nos treinamentos são pontos fortes. Se há algo que posso dizer com segurança é que sou um trabalhador constante, que sempre busca aprender e melhorar.

Vejo essa fase como uma situação positiva: por um lado tenho muita experiência e vivência, mas por outro, me sinto como um jovem que está começando do zero.

Por último, depois de tantos anos na elite do MTB, você sente que essa nova fase te motiva como no primeiro dia? Como encara essa nova aventura em nível pessoal?

Honestamente, nem eu esperava me sentir tão renovado e motivado para fazer algo novo. Isso me surpreendeu muito, porque realmente me sinto como há 15 ou 20 anos, quando só tinha sonhos e muita vontade, e tudo era incerteza.

A diferença agora é que tenho a tranquilidade que a experiência de vida me proporciona. E ter esse equilíbrio me coloca em uma posição em que, sinceramente, estou aproveitando muito essa fase.

 

procurando

Newsletter

Assine a nossa newsletter e receba todas as nossas novidades. Mountain bike, conselhos sobre treinamento e manutenção de sua bike, mecânicos, entrevistas ...

Você vai estar ciente de tudo!

¿Prefieres leer la versión en Español?

“Ni yo esperaba sentirme tan motivado": entrevistamos a Henrique Avancini tras su salto a la carretera

Do you prefer to read the English version?

"I didn't expect to feel so motivated": we interviewed Henrique Avancini after his transition to road cycling

Préférez-vous lire la version en français?

"Je ne m'attendais pas à me sentir aussi motivé" : nous avons interviewé Henrique Avancini après son passage à la route