De viver nas ruas para a elite do ciclocross

Autoestrada 16/02/22 00:23 Guilherme

Por mais que você siga religiosamente a temporada CX, é muito provável que seu nome não signifique nada para você. Afinal, a melhor colocação deste costarriquenho de 38 anos na Copa do Mundo é um 40, e no último Mundial ele estava em 35. Ou seja, último. Mas pouco importa.

Os resultados não são relevantes na história de Felipe Nystrom, que em uma década passou de morador de rua à elite do ciclocross. O fundamental nisso é entender o poder que a bicicleta (e o esporte em geral) tem de transformar vidas... e até de salvá-las.

Felipe Nystrom equipo Kairos

Como Felipe Nystrom conheceu o ciclismo

A tragédia deste homem começa muito cedo. Como ele contou em várias entrevistas, uma infância cheia de abusos físicos e sexuais o levou ao alcoolismo e às drogas. Aos 27 anos e com um filho de 3 anos, viva como sem-teto em San José, capital da Costa Rica, e sofria de uma profunda depressão. Não vendo saída, nesse ano de 2012 ele tentou tirar a própria vida pela sétima vez.

Hoje, Nystrom lembra que naquele exato momento, quando sentiu que estava chegando ao fundo do poço, firmou "um pacto" consigo mesmo, que já havia feito antes, mas que nunca teve forças para cumprir: se no dia seguinte ainda estivesse neste mundo, ele tentaria fazer algo com sua vida. Qualquer coisa, desde que saísse daquele poço. Quando ele acordou, depois que os médicos o reanimaram, ele foi direto para uma clínica de desintoxicação, onde passou os próximos 6 meses.

Felipe Nystrom en su anterior equipo

Lá, ele se apaixonou por uma mulher de Portland, na costa oeste dos Estados Unidos, e quando partiu, foi morar com ela em Oregon. Não deu certo, mas aquela nova vida serviu para Felipe se afastar de seus demônios, então ele ficou lá. Conseguiu vários empregos (até 7 diferentes ao mesmo tempo) mas, passados 2 anos, percebeu que estava muito solitário: não tinha amigos, e só sabia fazê-los no bar. Determinado a não recair, ele achou que o esporte seria uma boa maneira de conhecer pessoas e se inscreveu em alguns triatlos iniciantes, com uma bicicleta e um macaquinho alugados. E, para sua surpresa, ele ganhou os dois. Era 2014.

Pensando que talvez aquilo era a dele, ele se juntou a um clube de triatlo e fez um amigo porto-riquenho lá, mas nem nadar nem correr realmente o satisfaziam. Então ele pediu um credito de $ 5.000 para comprar uma bicicleta decente e se inscreveu com seu amigo para uma prova de estrada para amadores. Ele ganhou lá também. Claro, antes de uns garotos de 14 anos. E já começou a competir constantemente: disputou 110 corridas em seu primeiro ano.

Campeonato Nacional de Costa Rica

O sonho de Felipe Nystrom no Mundial se tornou realidade

Este ciclista em formação foi melhorando pouco a pouco o seu desempenho na estrada e, em 2019, viajou para o seu país para participar no Campeonato Nacional simplesmente por prazer, sem qualquer ambição. Sem equipe, porque seu clube estava em Portland, e sem assistência na prova, acabou ganhando o ouro (Andrey Amador não participou dessa edição, fique claro). Acima você tem a foto do pódio. Pouco depois, ele soube que o Campeonato Mundial de CX 2022 seria disputado nos Estados Unidos. E aí nasceu seu sonho: ele tinha dois anos para dar o salto para essa disciplina e entrar na lista de participantes.

Algo bastante complicado quando não se é profissional. Porque Felipe ganha a vida como intérprete de inglês-espanhol em um hospital e paga tudo: desde bicicletas e peças de reposição até viagens (aliás, como se isso não bastasse, ele também está fazendo mestrado). Graças a sua vitória no Nacional de 2019, conseguiu falar com o presidente da Federação de Ciclismo Costarriquense e ambos chegaram a um acordo: o país centro-americano lhe inscreveria nas provas da Copa do Mundo CX, sempre que ele cuidasse das despesas.

 Felipe Nystrom

E, dito e feito, com a camisa da Costa Rica comprada com seu próprio dinheiro, apareceu na largada das primeiras provas, realizadas em solo americano: Waterloo, Fayetteville e Iowa. Só então ele descobriu o que era o primeiro costarriquenho na história da Copa do Mundo de CX (este país tem um pouco mais de história no MTB, pois organiza uma das corridas mais difíceis do mundo, a Rota dos Conquistadores), e o único latino-americano atualmente em uma competição bastante eurocêntrica.

Justamente aqui, na Europa, se deslocava as provas depois do mês de outubro, de modo que as deslocações se tornaram proibitivas para ele. A última reviravolta dessa história incrível (que parece espelhar o oposto da de Missy Giove) vem quando um amigo dele cria uma página para ajudá-lo na rede de financiamento coletivo Gofundme, arrecadando US$ 3.500.

Graças a eles, Felipe conseguiu voar para a Bélgica e Holanda por uma semana em dezembro, para competir nas provas de Rucphen, Namur e Dendermonde, para se preparar para seu grande objetivo: o Mundial elite em Fayetteville. Lá, é claro, ele não ganhou. Quem fez isso foi um garoto predestinado chamado Tom Pidcock. Ele entrou na linha de chegada mais de 6 minutos depois do britânico. Mas, sim, tendo conquistado o carinho do público, que gritava "Costa Rica, Costa Rica!", vendo passar (e sofrer) o último corredor. Embora, claro, com uma história de vida tão emocionante, miserável e inspiradora como esta, sofrer é outra coisa para ele.

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