Pogacar confirma que irá para a dobradinha Tour-Vuelta
O melhor ciclista do mundo da atualidade gosta de proezas. E também o risco. Já o conhecemos há muito tempo, mas foi mostrado mais uma vez no Media Day de sua equipe, a UAE Team Emirates, onde Tadej Pogacar confirmou que vai disputar a dobradinha do Tour-Vuelta este ano. Pelo menos, enquanto as pernas e a cabeça permitirem. Um marco que quase todos o consideram capaz de alcançar no papel, embora ainda não se saiba se ele será capaz de realizá-lo.
Pogacar regressa ao local que o viu confirmar-se como estrela
“Foi a minha primeira grande volta e fiquei em terceiro. Tenho memórias muito boas e quero revivê-las”, explicou o ciclista mais bem pago do mundo na coletiva de imprensa (realizada, aliás, em terras espanholas, já que a equipe está concentrada em Alicante), referindo-se àquela edição de 2019 em que acompanhou Primoz Roglic e Alejandro Valverde no pódio.
Foi aí que começamos a conhecer suas mudanças de ritmo e sua sede inesgotável de triunfos. E a propósito, aqui ele ficaria cara a cara com o outro menino prodígio, Remco Evenepoel, que também confirmou sua presença na saída de Utrecht.
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A etapa organizada pela Unipublic se uniria assim num calendário muito apertado não só o Tour de France (aqui pode ver o percurso desta edição), mas também a quatro monumentos: Milão-Sanremo, Tour de Flandres, Liège-Bastogne-Liège e Lombardia. Isso, sem contar as mais que prováveis ??Volta aos Emirados Árabes (em fevereiro), Strade Bianche (março), Volta ao País Basco (abril), Volta à Eslovênia (junho) e Mundial (setembro). Ou seja, teria objetivos importantes todos os meses de fevereiro a outubro, exceto maio.
Ainda que a verdade é que isso não é exatamente uma surpresa, e já se intuía que o anúncio chegaria mais cedo ou mais tarde. Pelo menos, desde que o diretor do Giro d'Italia, Mauro Vegni, o desafiou a tentar a dobradinha do Giro-Tour, e Pogacar teve a gentileza de responder argumentando que ele nem sequer tinha disputado dois grandes no mesmo ano... e dando entender que antes deveria disputar Tour e Vuelta. A partir daí, foi quase dado como certo que 2022 era o ano para provar-se em nosso país, e 2023, talvez, em terras transalpinas.
Não esperará, então, até os 30 anos para ser épico, como fez Chris Froome, o último corredor a acertar dois alvos no mesmo ano. Foi em 2017. Apenas dois outros ciclistas conquistaram o Tour e a Vuelta na mesma temporada, e ambos o fizeram na época em que a etapa espanhola era realizada em abril-maio: Jacques Anquetil, em seu extraordinário 1963, e Bernard Hinault no início de sua carreira, em 1978. 'Le Blaireau' tinha, aliás, a mesma idade que Tadej Pogacar agora: 23.
Uma constelação de lendas: as outras dobradinhas
Mais sete ciclistas completaram o binômio Giro-Tour na mesma temporada em toda a história, mas já faz mais de duas décadas que ninguém o alcança. O primeiro foi Fausto Coppi (duas vezes, 1949 e 1952), e depois veio novamente Anquetil (1964), o imbatível Eddy Merckx (até três vezes, em 1970, 1972 e 1974), Bernard Hinault (1982 e 1985), Stephen Roche (1987), nosso Miguel Induráin (1992 e 1993) e, por fim, o malfadado Marco Pantani, em 1998. Chris Froome, novamente, esteve perto de ser o primeiro do século 21 em 2018, quando venceu na Itália e foi o terceiro em Paris.
Mais raro é o Giro-Vuelta: Eddy Merckx (1973), Giovanni Battaglin (1981, as duas únicas grandes que conquistou na vida) e Alberto Contador (2008) são os únicos a tê-lo em suas vitórias. Tudo indicaria que é, atualmente, o mais simples, pois vários meses se passam entre um e outro. Mas, para dar mais calibre ao que foi conquistado pelo belga e pelo italiano, é preciso lembrar que, antes de 1995, eles eram disputados praticamente seguidos.
Ninguém jamais chegou perto do trio, ou da tríplice coroa no mesmo ano. Algo que, hoje, parece totalmente impossível. Embora sete mitos tenham sido feitos com as três grandes ao longo de toda sua corrida. E Merckx e Roche conquistaram Giro, Tour e Mundial.
Referências históricas
Talvez a coisa mais próxima que o ciclismo experimentou de uma irrupção como a de Pogacar foi a de Laurent Fignon no início dos anos 80. Assim como ele, o francês vestiu a camisa amarela duas vezes quase como um amador, em 1983 e 1984, com 23 e 24 anos.
No entanto, e embora não chegou a vencer, “o professor” (como era apelidado) participou por aquelas datas de outras grandes provas. Esteve mesmo prestes a conseguir a dobradinha do Giro-Tour em 84. E, com seu estilo sempre beligerante, sempre sustentaria que, se não o conseguiu, foi porque o helicóptero da televisão italiana favoreceu Francesco Moser e o prejudicou no contrarrelógio final em Verona. Finalmente, em seu ressurgimento em 1989, ele se recuperou no Giro... mas voltou a perder uma classificação final, a do Tour, no último crono.
Parece que, agora, Pogacar também tentará a dobradinha. Pelo menos, essa é a sua intenção. "Você nunca sabe o que pode acontecer ao longo da temporada, mas é isso que eu gostaria", disse o balcânico na conferência de imprensa.
Porque há de lembrar que nos últimos dois anos ele flertou com a ideia de começar a Vuelta para depois recuar. Desta vez, porém, ele conta com o apoio de sua equipe na aventura, e tudo parece muito mais provável.
Artigo escrito por Iván Fombella.