Quanto ganha em média um ciclista de estrada profissional?

Muitas vezes falamos sobre os salários das grandes estrelas do ciclismo internacional. Mas, enquanto os contratos de Pogacar ou Peter Sagan chegam a milhões de euros por ano, a realidade do grosso do pelotão é bem diferente. Aqui, informamos quanto ganha um ciclista profissional de estrada, dependendo da categoria a que sua equipe pertence.

Quanto ganha um ciclista profissional por mês?

A primeira coisa que você precisa saber para entender a incrível diversidade salarial que existe no ciclismo é que atualmente existem 3 níveis dentro do profissionalismo masculino (falaremos sobre o feminino abaixo, o que requer uma discussão separada). E, embora muitas vezes os comparemos com as diferentes divisões do futebol, a coisa não é exatamente assim.

No momento são chamados UCI WorldTeam, UCI ProTeam e UCI Continental. A primeira é a categoria mais alta, com as 18 equipes (eram 19, mas reduziu uma após o desaparecimento de Qhubeka NextHash no ano passado) que têm o direito de participar das melhores competições, aquelas com maior cobertura da mídia. Estes são os seus patrocinadores este ano:

• AG2R Citroën (França)
• Astana Qazaqstan (Cazaquistão)
• Bahrein Vitorious (Bahrein)
• BikeExchange-Jayco (Austrália)
• Bora-Hansgrohe (Alemanha)
• Cofidis (França)
• DSM (Holanda)
• EF Education-EasyPost (EUA)
• Groupama-FDJ (França)
• Ineos Granadiers (Reino Unido)
• Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux (Bélgica)
• Israel-Premier Tech (Israel)
• Jumbo-Visma (Holanda)
• Lotto Soudal (Bélgica)
• Movistar (Espanha)
• Quick-Step Alpha Vinyl (Bélgica)
• Trek-Segafredo (EUA)
• UAE Emirates (Emirados Árabes Unidos)

RECOMENDADO

7 dicas para pedalar na chuva

Pogacar é o ciclista mais bem pago de 2024 e está provando o porquê

Qual tamanho da bicicleta que você precisa? Aqui dizemos

3 treinos de uma hora para melhorar a velocidade, força e resistência

A real importância de se inscrever para uma corrida

Qual é a temperatura máxima que você pode praticar esportes

Já dentro dessas formações, existe uma enorme variabilidade. Por um lado, estão as grandes estrelas (líderes das grandes voltas, especialistas de clássicas consumados...). Como dissemos antes: Tadej Pogacar receberá 6 milhões por ano dos UAE até 2027. E estes dias soubemos que parece que Tom Pidcock pode ultrapassar 4 milhões por ano na (já volumosa) folha de pagamento da Ineos Grenadiers. Ao mês? Isso significa 500.000 e 330.000 euros brutos, respectivamente. Mas, ao contrário do que acontece no futebol, essas figuras milionárias se reservam a um punhado de eleitos. Provavelmente menos de 50.

Enquanto isso, do outro lado do espectro, o salário mínimo para as equipes do WorldTour é de cerca de 40.000 euros como funcionário, ou cerca de 65.000 se o ciclista preferir trabalhar por conta própria (com o qual ele terá que pagar a Segurança Social do seu bolso, pensões, etc.). Isto significa que recebem cerca de 3.300 euros por mês. Claro, os neoprofissionais (geralmente jovens corredores no primeiro ano) ganham um pouco menos: 31.000 euros por ano, ou cerca de 2.600 por mês, pelo menos.

Gregários e classe média

Claro que nem todos. Diz-se que talentos como Tadej Pogacar ou Marc Hirschi começaram ganhando 70.000 euros por ano de suas equipes. E, claro, após sua explosão inicial (sendo um terceiro na Vuelta a España, o outro vencendo uma etapa do Tour e o Flecha Wallona), imediatamente saltaram mais de um milhão, ambos com os UAE Emirates.

No entanto, de acordo com vários meios de comunicação, os gregários experientes e caçadores de etapas e clássicas estão em algum ponto no meio, entre 100.000 e 400.000 euros por ano. Ou seja, de 9.000 a 35.000 euros por mês. Esta seria, por assim dizer, a classe média do ciclismo.

Aliás, a isto, que são os salários que recebem das equipes, devemos adicionar eventuais patrocínios pessoais e os prémios em dinheiro ganhos nas corridas, que, como deve saber, não são embolsados ??pelo vencedor, mas são distribuídos igualmente entre todos os corredores participantes. Portanto, é fácil para o ciclista médio ganhar mais de 10.000 euros por mês.

Quanto ganha um ciclista profissional de categorias inferiores?

Um pequeno passo abaixo do WorldTeam estão as 16 equipes ProTeam. Os melhores deles pelo ranking UCI (e, excepcionalmente, este 2022, os dois primeiros, novamente devido ao desaparecimento de Qhubeka) têm presença garantida nas 3 grandes voltas e nos monumentos, como se fosse um WorldTour. Os outros, no entanto, são os que estão sempre à custa das Wild Cards. Portanto, a maioria deles são franceses, italianos, espanhóis e belgas.

O certo bairrismo que sobrevive no ciclismo faz com que cada volta convide as 'suas' equipes: a Vuelta a España a Burgos-BH, Euskaltel-Euskadi, Kern Pharma ou Caja Rural (aqui haverá turbulência este ano, pois só podem haver duas), o Tour a B&B Hotels-KTM e TotalEnergies, e o Giro para Bardiani CSF Faizanè, Drone Hopper-Androni Giocattoli e Eolo-Kometa (graças à renúncia de Arkéa-Samsic). Tudo isso pode parecer familiar por vê-los nas grandes corridas, mas há outros que podem ser desconhecidos, como Bingoal, Novo Nordisk ou Human Powered Health. Aqui está a lista completa:

• Alpecin-Fenix ??(Bélgica)
• Arkéa-Samsic (França)
• B&B Hotels-KTM (França)
• Bardiani CSF Faizanè (Itália)
• Bingoal Pauwels Sauces WB (Bélgica)
• Burgos-BH (Espanha)
• Caja Rural-Seguros RGA (Espanha)
• Drone Hopper-Androni Giocattoli (Itália)
• Eolo Kometa (Itália)
• Euskaltel-Euskadi (Espanha)
• Human Powered Health (EUA)
• Kern Pharma (Espanha)
• Novo Nordisk (EUA)
• Sport Vlaanderen-Baloise (Bélgica)
• Total Energies (França)
• Uno-X (Noruega)

Aqui acontece três quartos do mesmo que no WorldTeam. Acima de tudo porque, nos últimos anos, o que chamaremos de 'modelo Alpecin-Fenix/Mathieu Van der Poel' virou moda: uma equipe ProTeam com uma estrela absoluta em suas fileiras que muitas vezes traz mais vitórias (e mais exposição) do que muitos da categoria superior têm.

O holandês ganha cerca de 2 milhões de euros; Arkéa-Samsic deixa 1,9 milhão por ano em Nairo Quintana, e é difícil saber quem paga o quê a Peter Sagan (porque não sabemos seu salário específico e porque há rumores de que uma parte importante vem de seu acordo pessoal com a Specialized), mas aí está também TotalEnergies.

No entanto, o salário mínimo para estas equipes está fixado em cerca de 31.000 euros no caso da maioria dos ciclistas, e cerca de 26.000 no caso dos neoprofissionais. Ou seja, os miúdos de Burgos-BH, Euskaltel-Euskadi, Kern Pharma ou Caja Rural devem começar a ganhar cerca de 2.100 euros por mês, passando depois para pelo menos 2.500. Como em tudo, então isso estará sujeito a negociação com base nas vitórias ou visibilidade que trazem.

Categoria UCI Continental

Abaixo da ProTeam, fica ainda uma categoria: a Continental, que conta com nada menos que 180 equipes, que competem a nível regional (só os portugueses já são 10). Aqui você pode ver todos. Eles incluem desde as filiais, ou 'equipes de desenvolvimento', da WorldTeam até esquisitices como o Sindicato dos Funcionários Públicos Argentinos de San Juan ou o Vino SKO kazajo (e sim, Vino é de Vinokourov), passando pelo Ljubljana Gusto Santic em que correu Pogacar quando ele era (mais) jovem.

Estes não têm um salário mínimo estabelecido pela UCI. As regras da organização mundial apenas obrigam essas formações a proporcionar aos seus corredores o material, mas não a compensação financeira. Sim, existem países que exigem, mas há muitos outros onde não é assim, de modo que um bom número de ciclistas supostamente 'profissionais' correm, na realidade, de graça.

E quanto ganham as mulheres ciclistas?

Dadas as enormes diferenças que existem no pelotão masculino, certamente você já espera que a diferença salarial com o feminino seja imensa e indignante. E você não está errado. De fato, até 2018, quase uma em cada cinco mulheres 'profissionais' corria de graça (!) e metade recebia menos de € 5.000 por ano. Ou seja, menos de 420 euros por mês. Novamente, escrevemos profissional entre aspas porque não sabemos se, com esses salários, a palavra se justifica.

Graças à progressiva popularização das corridas femininas, em 2020 a UCI iniciou algumas reformas que envolveram a divisão da única categoria que existia até então em duas (WorldTeam e Continental). Na primeira já são 14 equipes, e cada vez mais se somam ao ver como as coisas crescem (sobretudo na Holanda); especialmente, as versões das equipes masculinas, algo que também está levando a salários mais dignos. Esta é a lista para este 2022:

• BikeExchange-Jayco (Austrália)
• Canyon//SRAM (Alemanha)
• DSM (Holanda)
• EF Education-Tibco-SVB (EUA)
• FDJ Nouvelle-Aquitaine Futuroscope (França)
• Human Powered Health (EUA)
• Jumbo-Visma (Holanda)
• Liv Racing Xtra (Holanda)
• Movistar (Espanha)
• Roland Cogeas Edelweiss (Suíça)
• SD Worx (Holanda)
• Trek-Segafredo (EUA)
• UAE Team ADQ (Emirados Árabes Unidos)
• One-X (Noruega)

A UCI também introduziu um salário mínimo em 2018, que no ano passado passou de 15.000 para 20.000 euros brutos por ano, e este ano é de 27.500. Ou seja, as ciclistas mais mal pagas do WorldTeam devem ganhar quase 2.300 euros brutos por mês. E a ideia é que no próximo ano seja igual ao salário mínimo dos homens da UCI ProTeam (segundo escalão), naqueles 32.100 euros por ano.

Por outro lado, a mais bem paga com certeza é Annemiek Van Vleuten, pois não é em vão que a veterana holandesa é hoje a melhor ciclista de estrada do mundo. Segundo o jornal El País, na sua transferência para a Movistar, em 2021, assinou um contrato que prevê 250 mil euros por temporada. Uma soma importante, mas que é quase uma ordem de magnitude abaixo de seu 'colega de equipe' Alejandro Valverde (2,2 milhões). Quase 25 Van Vleutens cabem no salário de Pogacar.

E depois, é claro, há a selva das equipes continentais. Uma pesquisa realizada pela The Cyclists' Alliance no ano passado revelou que 34% das mulheres ciclistas não tinham salário. Zero. O que significa que o problema se expandiu desde 2018 em vez de ser resolvido (embora a explicação esteja no fato de que desde então o número de corredoras no pelotão aumentou consideravelmente).